Infecção Viral e Imunidade
Guerra, J. U. 2018.

De modo geral, a defesa contra microrganismos é mediada por mecanismos efetores das respostas imunes inata e adaptativa.
Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios por necessitarem usar ácido nucleico e o mecanismo de síntese proteica celular para a reprodução, portanto podem infectar diversos tipos de células. Como a replicação viral interfere na síntese e função proteicas da célula, leva à lesão e culmina com a morte da célula infectada, sendo este o efeito citopatológico viral e, em casos de necrose por lise, denomina-se infecção lítica.
Quando um corpo estranho entra no organismo, o primeiro mecanismo de ação é a imunidade inata através da fagocitose, geralmente os neutrófilos ou células dendríticas tem o primeiro contato com o agente infeccioso. Como são vários mecanismos de ação, estarei sempre indo e voltando pelos vários tipos de resposta, por isso, recomendo fortemente que leia pausadamente para conseguir visualizar a ação dentro do organismo e depois procure fazer a visualização mental de um vírus influenza tipo B para conseguir compreender a ação dos mecanismos. Vale lembrar que esse vírus vai entrar através de contato com mucosas.
Como mecanismos da imunidade inata temos a produção de interferons tipo 1, que atuam inibindo a replicação viral em células infectadas e não infectadas. Os interferons são produzidos em sua maior parte por células dendríticas. As NK (natural killer) reconhecem as células infectadas pois o vírus bloqueia a expressão do MHC (Major Histocompatibility Complex, que é uma grande região genômica ou família de genes encontrada na maioria dos vertebrados) de classe I, que causaria a inibição da ação das células NK , responsáveis por causar a morte celular, se tornam importante mecanismo no início da infecção antes da ação da imunidade adquirida.
Anticorpos antivirais se ligam aos antígenos do capsídeo e previnem a ligação do vírus com a célula evitando tanto a infecção inicial do vírus com a célula, quanto a disseminação de célula para célula. Um importante isótipo é o IgA, que atua na neutralização dos vírus no trato respiratório e gastrointestinal os anticorpos também atuam opsonização de partículas virais facilitando a fagocitose.
A imunidade humoral, mesmo induzida por infecção ou vacinação prévias, não consegue erradicar sozinha uma infecção estabelecida, pois os vírus que conseguem se propagar nas células ficam inacessíveis. Nesses casos a eliminação dos vírus é mediada pelos linfócitos T CD8 citotóxicos ou CTL. Quando uma célula infectada é fagocitada por uma célula dendrítica, ela processa e apresenta os antígenos virais as células T CD8 virgens que tem sua diferenciação completa estimulada pelas citocinas expressadas pelas células T CD4 auxiliares ou por coestimuladores expressos em células infectadas. A maior parte das células T CD8, que sofrem proliferação maciça durante a infecção viral e tem especificidade para poucos peptídeos virais. Algumas dessas células T se diferenciam em CTL efetoras, podendo destruir qualquer célula nucleada infectada como também podem ativar nucleases em células infectadas e seca citocinas como a IFN-𝛾 que ativa fagocitos.
Em alguns casos o CTL pode causar lesão de tecido pela própria resposta imune, que irá atacar células infectadas mesmo que não haja toxicidade ou lesão celular. Com isso a sintomática da patologia é puramente decorrente da resposta imune, que age contra o agente desconhecido. Outro tipo de resposta que pode causar dano ao organismo é a formação de complexos imunológicos circulantes compostos de antígenos virais e anticorpos específicos, que é consequência de algumas respostas a infecções persistentes. Depositados nos vasos sanguíneos, esses complexos levam a vasculite sistêmica. Também existem proteínas virais contendo sequências de aminoácidos que são expressas em alguns antígenos próprios, assim a própria imunidade pode conduzir resposta contra antígenos próprios.
Em diversos casos o organismo não consegue erradicar a infecção e como resultado o vírus persiste na células infectadas, não se replicando nem as destruindo, a esse estado denomina-se latência, que é o equilíbrio entre a infecção e a resposta imune.
Os vírus também podem escapar da imunidade de diversas formas: alterando seus antígenos; produzindo proteínas que inibem a apresentação de antígenos proteicos citosólicos associados ao MHC classe 1; produzindo moléculas inibitórias de resposta imune; infectando e destruindo ou inativando as células imunocompetentes.