Imunidade Inata e Adquirida
Guerra, J. U. 2018.

Para estudar a imunidade, a primeira classificação que encontramos é a diferenciação entre Imunidade Inata e adquirida. Obviamente existem muito mais classificações, mas lembre sempre que isso só ocorre para que possamos entender melhor o funcionamento das coisas.
Imunidade Inata
O sistema imune inato apresenta diversas barreiras, sendo elas físicas, químicas e biológicas. Essas defesas consistem em mecanismos que reagem aos microorganismos e a produtos de células danificadas e mortas, servindo também para a eliminação destas e início do reparo tecidual. Responde a diversas substâncias que não são de origem microbiana, mas que não deveriam ser encontradas em tecidos saudáveis. Também atua estimulando as respostas do sistema imune adaptativo, principalmente por ser a primeira linha de defesa orgânica e de forma frequente reage distintamente a diferentes microorganismos, influenciando a resposta imune adaptativa, tornando mais eficazes as respostas específicas contra diferentes patógenos.
PAMP e DAMP
Os padrões moleculares associados aos patógenos (PAMP) são substâncias que estimulam a imunidade inata por serem pertencentes caracteristicamente a patógenos microbianos, sendo que diferentes classes expressam diferentes PAMP. Também reconhece padrões moleculares associados a danos (DAMP), que são moléculas endógenas que são produzidas ou liberadas por células danificadas ou mortas, que podem ser resultantes de danos celulares causados por infecções bem como indicativo de ocorrência de lesões celulares assépticas causadas por mecanismos diversos como queimaduras, toxinas químicas, traumas ou redução do suprimento sanguíneo e, em alguns casos de infecção, células saudáveis são estimuladas na produção e liberação de DAMP, estimulando aumento da resposta imune nativa às infecções. Importante frisar que células mortas por apoptose geralmente não liberam DAMP.
Exemplos de PAMP:
Ácidos Nucleicos
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ssRNA - viral
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dsRNA - viral
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CpG -viral, bacteriano
Carboidratos
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Manana - fungos, bactérias
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Glucanas dectina - fungos
Proteínas
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Pilina - bacteriano
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Flagelina - bacteriano
Lipídios da parede celular
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LPS - bactérias Gram negativas
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Ácido lipoproteico - bactérias Gram positivas
Exemplos de DAMP:
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Proteínas induzidas por estresse - HSP
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Cristais - Urato Monossódico
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Proteínas Nucleares - HMGB1
As principais barreiras físicas são as epiteliais, que enquanto intactas, em suas superfícies, além de atuarem como barreiras físicas, possuem células que tem capacidade de produção de substâncias químicas antimicrobianas que previnem a entrada de microrganismos em tecidos do hospedeiro. Como principais peptídeos antimicrobianos posso citar:
Defensinas: pequenos peptídeos catiônicos com cerca de 29 a 34 aminoácidos que contém três pontes dissulfeto intracadeias. Suas duas famílias são 𝝰 e 𝝱, que se distinguem pela localização das pontes dissulfeto. São produzidas por células epiteliais de superfície mucosa e por leucócitos contendo grânulos, incluindo neutrófilos, linfócitos e NK.
Catelicidinas: sintetizadas como precursores, com dois domínios de 18kD, que é proteoliticamente clivado em dois peptídeos, ambos com funções protetoras. O fragmento C-terminal, chamado LL-37 pode se ligar ao LPS e inativá-lo. São produzidas por neutrófilos e diversas barreiras epiteliais, incluindo pele, trato gastrointestinal e respiratório.
As células pertencentes ao sistema inato são:
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Neutrófilos: circulam como células esféricas com diâmetro aproximado de 12𝝻m a 15𝝻m, com numerosas projeções membranosas com a membrana celular contendo atividade enzimática de vários tipos, seu núcleo é segmentado em 3 a 5 lóbulos conectados, seu citoplasma contém grânulos de três tipos, sendo a maioria correspondente aos grânulos específicos, grânulos azurófilos e grânulos gelatinosos. A membrana das granulações primárias contém antígenos CD63 e CD68 e sua matriz contém glicerofosfatase, alfa1-antitripsina, alfa-manosidase, beta-glucuronidase, elastase, lisozima e defensinas. A membrana das granulações secundárias contém antígenos de diferenciação CD15, CD66, CD67, moléculas de adesão e vários ligantes e sua matriz contém beta2-microglobulina, colagenase, gelatinase, histaminase, lactoferrina, lisozima, ativador de plasminogênio e proteína ligadora. A membrana das granulações terciárias ou gelatinases contém CD11b (receptor para o complemento, pertence à família das moléculas de adesão) e FMLP (formil-metionil-leucil-finilalamina, mediador de inflamação) e sua matriz contém gelatinase, acetiltransferase e lisozima. As vesículas secretoras contém fosfatase alcalina, citocromo, antígenos CD10, CD13, CD16, CD11b e FMLP nas membranas e proteínas plasmáticas em seu interior. Pode migrar para o sítio de infecção poucas horas após a entrada do microrganismo, após a entrada no tecido atua por algumas horas e em seguida morrem. Neutrófilos tem meia-vida aproximada de 6 horas no sangue, enquanto circulantes e representam 40 a 70 % do total de leucócitos do sangue. Seu principal objetivo é fagocitar e digerir patógenos. Os microrganismos são destruídos pela ação de enzimas líticas e reativos de O₂ ou pela liberação do conteúdo dos grânulos, produzem filamentos nos tecidos circunjacentes que aprisionam os microrganismos, facilitando sua destruição e proporcionam uma ação mais localizada da atividade enzimática. Estão envolvidos na defesa contra agentes bacterianos e fúngicos. Receptores de superfície denominados LFA-1, que é uma molécula de adesão, se ligam ao ICAM-1 do endotélio, que se dilata pela presença de vasodilatadores como histamina, prostaglandina E2, prostaciclina e componente C5a do complemento, então o neutrófilo realiza a diapedese. Possuem em sua membrana receptores para o componente C3b que é gerado pela fixação do complemento e liberada na reação se liga ao receptor de superfície do neutrófilo fazendo opsonização, que estimula a fagocitose. O componente C5a é um importante quimiotáxico para eles, aumentando também o seu metabolismo. Os neutrófilos ainda possuem receptores da fração FC das imunoglobulinas, sendo os das IgGs chamadas de FCgamaR. As IgG atuam como opsoninas, envolvendo o material a ser fagocitado e se liga a este receptor de superfície. São células piogênicas, ou seja, dão o aspecto purulento nas inflamações, aquele “líquido leitoso” do pus. O pus é formado por substâncias bacterianas, bactérias mortas, sangue, mas principalmente por neutrófilos que morreram em combate.
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Monócitos: fazem parte do sistema fagocitico mononuclear que consiste em células em trânsito no plasma sanguíneo que irá migrar posteriormente aos tecidos e se figerenciar em macrógagos. Após a diferenciação em monoblasto, a célula diferencia em monócito e migra para o tecido sanguíneo. Quanto a morfologia, o monócito tem 10𝝻m a 15𝝻m de diâmetro, núcleo ovóide, com citoplasma basófilo com grânulos azurófilos contendo lisossomos, vacúolos fagocíticos e filamentos de citoesqueleto, representa de 2 a 10 % de leucócitos circulantes no sangue. Após se mover para os tecidos se diferencia em macrófago. onde dependendo da localização, recebe diferentes nomes como micróglia no sistema nervoso, células de Kupfer no fígado e células de Langerhans na epiderme.
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Macrófagos: quando ocorre uma infecção, os monócitos se deslocam para os tecidos e aumentam consideravelmente de tamanho e produzem grânulos no seu interior durante aproximadamente 8 horas, tornando-se macrófagos e dependendo da localização, recebe diferentes nomes como micróglia no sistema nervoso, células de Kupfer no fígado e células de Langerhans na epiderme. Seus grânulos encontram-se cheios de enzimas e outras substâncias que ajudam a digerir as bactérias e outras células estranhas que são fagocitadas. Produzem substâncias que atraem outros glóbulos brancos ao local de infecção e também ajudam as células T a reconhecer os invasores e, desta forma, também participam da imunidade adquirida.
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Eosinófilos: são granulócitos que estão presentes nos tecidos periféricos, especialmente nos revestimentos das mucosas do trato respiratório, gastrointestinal e genitourinário. representam mais de 5% do número total de leucócitos e são uma grande fonte dos mediadores inflamatórios. Seu alvo são microrganismos grandes demais para serem fagocitados, os destruindo pela secreção de substâncias tóxicas.
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Basófilos: constituem menos de 1% dos leucócitos circulantes no sangue e tem meia vida estimada entre 1 e 2 dias. apresenta núcleo volumoso, segmentado com forma irregular e recoberto por grânulos grosseiros. O citoplasma é rico em grânulos citoplasmáticos que possuem entre 0,15𝝻m a 0,5𝝻m e se ligam a corantes básicos. Estão normalmente presentes nos tecidos e podem ser recrutados para alguns sítios inflamatórios. A basofilia (aumento da população circulante) está relacionada com a defesa do organismo, em média dobrando em indivíduos alérgicos ou em patologias mieloproliferativas. Contêm grânulos repletos de histamina, uma substância presente nas reações alérgicas, assim quando se deparam com alérgenos, eles liberam histamina, que aumenta o fluxo de sangue para os tecidos danificados, resultando em inchaço e inflamação. Também produzem substâncias que atraem os neutrófilos e os eosinófilos ao foco do problema.
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Mastócitos: Variam em sua forma, tem núcleo arredondado e citoplasma com grânulos, que contém proteinoglicanas ácidas que se ligam a corantes básicos, ligados à membrana. Estão presentes na pele e no epitélio da mucosa, mastócitos maduros também estão presentes constitutivamente nos tecidos saudáveis, geralmente próximos a pequenos vasos sanguíneos e nervos e, de modo geral, não são encontrados circulantes no tecido sanguíneo. Os grânulos dos mastócitos das mucosas contém triptase e sulfato de condroitina; já os grânulos dos mastócidos do tecido conjuntivo apresentam quimase e heparina.Expressam receptores de membrana para fração Fc de anticorpos IgE e IgG e geralmente são revestidos por esses anticorpos. Quando os anticorpos presentes na superfície dos mastócitos se ligam ao antígeno, são induzidos eventos de sinalização intracelular que acarretam a liberação do conteúdo dos grânulos citoplasmáticos para o espaço extracelular. Os conteúdos liberados dos grânulos incluem citocinas e histamina, as quais promovem alterações nos vasos sanguíneos que fazem parte do processo inflamatório. Os mastócitos também expressam outros receptores que reconhecem proteínas do complemento neuropeptídeos e produtos microbianos. Além disso, essas células são importantes na defesa contra helmintos, mas são também responsáveis pelos sintomas das doenças alérgicas.
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Células dendrídicas: possuem função tanto na imunidade inata quanto na adquirida, sendo considerada por muitos autores como um elo entre elas. São células com longas projeções membranosas e possuem capacidade fagocítica. São encontradas amplamente distribuídas nos tecidos linfóides, no epitélio das mucosas e no parênquima dos órgãos. Na imunidade inata, possui função de reconhecimento por possuírem diversos e diferentes tipos de TRL e de receptores citoplasmáticos de reconhecimento de padrões, em quantidades superiores a qualquer outra população celular, o que as torna os mais versáteis sensores de PAMP e DAMP de todo o corpo.
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Células natural killer (NK): também são chamadas de assassinas naturais. São linfócitos e constituem de 5% a 15% das células mononucleares do sangue e do baço, com raras apresentações em outros órgãos linfóides, salvo em organismo gravídico onde se apresenta em grande quantidade no fígado e útero. São linfócitos distintos dos linfócitos T e B, usando receptores codificados pelo DNA em sua configuração germinativa para diferenciar células infectadas de células saudáveis, assim promovendo a destruição citotóxica das células infectadas por vírus ou lesadas. Elas são capazes de realizar sua função de morte sem necessidade de expansão clonal e diferenciação. Possui vários receptores de antígenos para ativação e inibição que tem especificidade limitadas para moléculas MHC ou semelhantes a MHC. Seu marcador fenotípico selecionado é o CD 16, que é receptor Fc para IgG.
Entre a imunidade Inata e a Adaptativa, o organismo trabalha com um sistema, chamado Sistema Complemento. Saiba mais:
Imunidade Adquirida
Quando um patógeno consegue sobrepujar a imunidade inata, prossegue com sua replicação e acumula antígenos. Com isso a imunidade adaptativa é acionada. Sua principais características são: especificidade, diversidade, memória, expansão clonal, especialização, contração e homeostasia e também a não reatividade ao próprio, o que impede lesão do hospedeiro durante respostas a antígenos.
Linfócitos B - são os únicos que produzem anticorpos e tem ação na imunidade humoral. tem especificidade no receptor de anticorpos de superfície para todos os tipos de moléculas. Como marcadores fenotípicos apresenta receptores de FC, MCH de classe II, CD 19 e CD21. Depois de ativados, se diferenciam em plasmócitos. Os anticorpos produzidos se ligam aos patógenos e exercem as seguintes funções básicas:
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IgA - recobre os microrganismos e toxinas promovendo a neutralização
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IgE- ativam os mastócitos e eosinófilos favorecendo a resposta inflamatória.
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IgG- recobrem os microrganismos transformando-os em alvos para células fagocíticas
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IgM - ativa o sistema complemento através da via clássica, assim promovendo a fagocitose.
Linfócitos αβ
Linfócitos T CD4 auxiliares - tem função de diferenciação de células B (imunidade humoral) e ativação de macrófagos (imunidade, mediada por células). Seus receptores são heterodímeros αβ e possui diversas especificidades para complexos peptídeo MHC de classe II. Seus marcadores fenotípicos selecionados são CD3+, CD4+ e CD8-.
Linfócitos T CD8 citotóxicos (CTL) - estimulam a inflamação e destrói células infectadas com vírus ou bactérias intracelulares ou com rejeição de aloenxertos. Seus receptores são heterodímeros αβ com diversas especificidades para complexos peptídeo MHC de classe I. Seus marcadores fenotípicos selecionados são CD3+, CD4- e CD8+.
Células T reguladoras - tem função de supressão de função de outras células T, assim faz a manutenção das respostas e manutenção da autotolerância. Seu receptor de antígeno tem formato de heterodímero αβ com especificidade não definida. Seus marcadores fenotípicos selecionados são CD3+, CD4+ e CD25+.
Linfócitos γδ
Linfócitos T γδ - tem funções auxiliares e citotóxicas (imunidade inata). Seus receptores de antígenos são heterodímeros γδ com especificidades limitadas para antígenos peptídicos e não peptídicos. Seus marcadores fenotípicos selecionados são CD3+ e CD4 e CD8 variáveis.